A morte devagar

Desculpem me o facto de estar em brasileiro, e é um texto grande (só lê quem quer) mas está muito bom!

"Morre lentamente quem não troca de ideias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.
Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajecto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja quem não lê quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.
Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar."

Acho que não é preciso acrescentar mais nada, está tudo dito, triste ou não, está é a verdade e a mim deixa-me naquele impasse complicado demais de explicar.

8 comentários:

Anónimo disse...

obrigada pela força. só espero arranjar solução para aquela "menina". não consegui responder no meu blog, por isso respondo aqui :$

Anónimo disse...

obrigada pela força, só me falta arranjar uma solução para esta "menina". não consegui responder no meu blog, de modo que te agradeço aqui :$

Anónimo disse...

simplesmente espectacular! Adorei ler estas palavras!

Sónia disse...

Oh, espero mesmo que consigas algo. Está difícil, mas espero mesmo :)
Também já não sei a que me referia.
Um beijinho

Sónia disse...

E gostei do texto, é tudo tão verdade!

Daniela S. disse...

Não é mesmo preciso acrescentar mais nada, é mesmo isso que penso :)

A Loira disse...

O texto é mesmo muito lindo.

B! disse...

Realmente não há nada mais a dizer, a frase de "estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar." é simplesmente brilhante...